terça-feira, 31 de março de 2015

where to love?* foi a primeira frase que me foi dirigida ao entrar em terras de sua majestade, pelo simpático, divertido e despachado motorista de autocarro. Não vou contar com o grunhido produzido pelo polícia no aeroporto, que tinha um ar muito aborrecido, nas suas várias vertentes - chateado, entediado e entediante.
Where to indeed? Quando se tem raízes aéreas as malas são fáceis de fazer. Olhando para os calendários dos anos da segunda metade da minha vida, são poucos os meses em que não andei de mochila às costas de um lado para o outro. E talvez por isso sinto que chegou a hora de poisar um bocado, a questão, não tão óbvia quanto isso, é onde?
Há uns dias li no artigo Life in a suitcase, neste blogue, este pequeno parágrafo: I'm slowly begining to understand that going through life on your own might seem like the easy option, but it's also a cowardly one. That way we never grow and change the way we do if we're made to rub against other people. On our own we're not learning or loving as much. 
Esta é uma ideia com a qual me tenho debatido muito, faço as coisas orgulhosa e estupidamente só? Será mesmo por orgulho? Egoísmo? Ou sou simplesmente o resultado de uma equação de acontecimentos, educação e decisões que me forçaram a um desenrascanço constante. Porque é que corro maratonas para evitar pedir ajuda? E porque razão quando alguém me oferece alguma coisa sinto que tenho que retribuir e pagar o mais rapidamente possível? Serei uma Lannister (alerta tótó) e por isso tenho que pagar todas as minhas dívidas (mesmo quando não o são) senão desonro a família?
Concordo com Lotta, a autora do artigo, quando diz que sozinhos não crescemos, nem mudamos da mesma forma. Aprender-se-á menos se formos mais independentes? Também aqui acho que é apenas diferente. Não acho que uma forma seja melhor ou mais fácil do que outra. Aborrece-me quando me tentam convencer que há fórmulas de viver mais correctas e normais, mas o que raio é normal? Quanto ao amor, não apenas o dito romântico, haverá sentimento menos mensurável e normalizável?
Este mês fiz a minha primeira viagem internacional a solo, vá semi-solo, porque fiquei em casa de amigos. Receberam-me tão bem, que claro, acho que nunca conseguirei retribuir todo o carinho e atenção que me deram. Muito, muito obrigada por tudo E., R. um agradecimento particular por teres partilhado as tuas NERD, digo NERF.
Para quem quer viajar sozinho e ainda não o fez, só posso dizer que de todas as vezes que o fiz me diverti bastante, há momentos em que gostava de dizer a alguém, olha lá que giro! Mas, por outro lado, sabe bem ver as coisas ao nosso ritmo sem estar com receio de estar a incomodar, contrariar ou aborrecer alguém. Sou capaz de estar um dia inteiro num museu ou numa livraria, mas poucas são as pessoas que conheço que teriam paciência para me acompanhar, não pelos espaços, mas pelo tempo que demoro.
Londres numa palavra é gente, numa descrição simples é uma cidade fervilhante com muita, muita gente. Não quero ser injusta com esta espécie de definição, mas tendo em conta que sou praticamente uma ermita, acho que a insistência na palavra gente, diz mais sobre mim do que sobre a cidade. Não é por acaso que a maioria das fotografias que tirei são de árvores e de bichos.
Não quer dizer que não goste de pessoas, pelo contrário, do que não gosto é de todas ao mesmo tempo. Esta é uma reflexão que aplico também à minha família, individualmente são do melhor que há, juntos são esgotantes.
Das coisas que mais gosto de fazer, especialmente numa cidade grande, em que ninguém nos dá nenhuma importância é observar as pessoas e tentar adivinhar o que fazem e depois a partir daí criar-lhes uma história. Gostei especialmente destas pessoas com quem me cruzei: uma assistente de bordo que por coincidência estava no voo de ida e no de regresso (nunca me tinha acontecido), uma senhora com um cão enorme e felpudo, num comboio; uma rapariga vestida de dinossauro, também num comboio; um casal com dois filhos, num autocarro; um casal de adolescentes na rua; a família que no avião ficou ao meu lado, a bebé quando olhava para mim parava de chorar e começava a rir (isso já me aconteceu algumas vezes e desconfio que os miúdos acham graça às minhas sardas), os pais eram muito simpáticos e a irmã tão adorável que tive que a desenhar e por fim um homem que estava a trabalhar na rua e lançou um belíssimo impropério em bom português.
Na rua fui abordada diversas vezes com pedidos de informações, a expressão de espanto e desilusão dessas pessoas quando lhes pedia desculpa, mas que não sabia e não tinha como as ajudar, ficou gravada na minha cabeça. E não teve que ver com o meu aspecto físico, os londrinos, os poucos de gema e os muitos de transição, são o mundo inteiro. Essa é talvez a maior beleza desta cidade. Pelos vistos ao andar sozinha na maior cidade da Europa transmiti a ideia de que sabia para e por onde ir. Na verdade gosto apenas de me preparar e de me perder, o que acaba por ser uma semi-espontaneidade. Todas as noites, consultava o mapa para saber como chegar a determinada área, de dia deambulava e chegava onde queria e depois deambulava de novo no regresso. Tenho perfeita noção que funcionou bem porque Londres é uma cidade bem oleada no que respeita a transportes e a sinalética.
Para terminar, que isto já vai para lá de longo e a geração internet não consegue concentrar-se muito tempo. Quanto tempo aguentaria Londres? De antemão sei que sou menos radical que Eça de Queiroz, apesar de mais bicho e partilhamos pelo menos dois amores. Aqui fica um excerto de uma carta sua, dirigida à condessa de Ficalho, escrita no verão de 1885, a partir de Londres (na altura com inacreditáveis 5 milhões de habitantes): o meu instinto estreito de português de província triunfa da minha filosofia e continuo a detestar tudo aqui, com excepção das crianças e dos cães.

segunda-feira, 30 de março de 2015

fotografia de Philip Ebeling

London* de Benjamin Clementine.

domingo, 29 de março de 2015





rouge*

sábado, 28 de março de 2015




diversion e os seus múltiplos sentidos*

sexta-feira, 27 de março de 2015





Camden Market* entre espartilhos e caveiras, um respeitável gentleman comia uma sopinha quente.

quinta-feira, 26 de março de 2015




Portobello Market*

quarta-feira, 25 de março de 2015



a rua é um palco ininterrupto*

terça-feira, 24 de março de 2015

window displays*

segunda-feira, 23 de março de 2015




cabeça no ar 2*

domingo, 22 de março de 2015


cabeça no ar 1*

sábado, 21 de março de 2015





pés no chão*

quinta-feira, 19 de março de 2015





selva urbana 2*