domingo, 16 de dezembro de 2012
sancha*adorava ser o centro de todas as atenções e não descuidava nenhum pormenor para manter esse estatuto em todos os encontros sociais. Quando era apenas uma criança descobriu que quanto maior a birra, mais rapidamente conseguiria o que queria. Os pais pertenciam a uma família de linhagem antiga e como tal sempre acreditaram que qualquer escândalo deve ser evitado a todo o custo. Mais tarde, já no liceu, percebeu que se risse muito alto enquanto lançava a cabeça para trás, captava os olhares dos rapazes. Depois tornou-se mais discreta, atingiu um patamar de excelência no que toca a chamar a atenção. Em qualquer lugar em que entrava todas as conversas paravam e todos a olhavam com admiração e inveja. Já não usava esta característica apenas em benefício próprio, criou uma fundação. Pertencia a vários clubes e jogava golfe duas vezes por semana com a mãe de um deputado. Já não era a Sanchinha, mas a Senhora Dona Sancha e sabia que qualquer descuido poderia deitar abaixo anos de aperfeiçoamento na arte de parecer, por isso todas as manhãs respondia a cartas e fazia telefonemas importantes, almoçava com o marido nos melhores restaurantes, tomava sempre o chá das cinco rodeada de outras senhoras respeitáveis e jantava com os netos porque é uma avó dedicada. Não há muito tempo, depois de vestir a camisa de dormir olhou-se ao espelho para tirar o colar de pérolas brancas e decidiu... reformar-se. No dia seguinte não tratou do correio, nem fez nenhum telefonema importante, preparou o almoço em casa para o marido, não tomou chá com nenhuma senhora respeitável, dispensou a ama e levou os pequenos à praia, onde brincaram toda a tarde e acabaram por comer uma bela sardinhada preparada pelos pescadores.
Durante semanas nos clubes e demais lugares anteriormente por ela frequentados espalhou-se o boato de que estava a recuperar de uma depressão nervosa ou seria de uma cirurgia plástica?
Como sei a verdade e não gosto de injustiças estas fotografias servem de prova que Sancha nunca esteve tão bem nem tão feliz.
Quem lançou o boato acabou por tomar o seu distinto lugar, na fundação, nos clubes, no salão de chá...há muitas Donas Sanchas, mas avó Sancha, só conheço uma e vi-a ontem, de tarde, no parque da cidade, a oferecer balões coloridos às crianças que por ali passavam.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
jacinto* só sai de casa de noite, apesar de ver muito, muito mal.
A mãe pertencia a uma respeitável colónia de quirópteros e da sua parte herdou um extraordinário biosonar, quase infalível, que lhe permite passear mesmo na noite mais escura. O quase explica-se com um pequeno incidente que envolveu um candeeiro e que resultou num galo, não dos que cantam, mas dos que doem. Decidiu passar a sair só depois da hora do jantar, pois descobriu que nem todas as ondas que sentia no ar o ajudavam a navegar na escuridão, algumas serviam apenas para aquecer as refeições dos vizinhos.
Do pai herdou o gosto pela música. As pautas que prefere são as de Chopin, mas depois de as comer fica com uma nostalgia muito forte e dá-lhe para se sentar à janela a ouvir a chuva a cair. O romantismo ataca-lhe o estômago e não há fármaco que o possa ajudar. Mas não se aborrece muito com isso. Quando comeu a colecção completa de pautas de exercícios para contrabaixo, que encontrou no arquivo municipal, foi muito, muito pior. Passou uma semana inteira com um ataque de arrotos muito grave.
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
reencontros*sempre que participo em exposições ou em feiras conheço pessoas novas ou reencontro alguém que não via há muito tempo. Este fim-de-semana na Feira de Artesanato de Lagos reencontrei uma colega de escola.
Enquanto estávamos a escolher os cursos a seguir, lembro-me de muita gente a criticar pela sua escolha. Parecia que alguém como ela teria que estudar medicina, não porque fosse o seu desejo, mas por causa das suas excelentes notas. Pois se já gostava dela, mais a admirei por não ter sucumbido a nenhuma pressão e por ter seguido o seu caminho.
Actualmente faz parte do projecto Zionzuri, na Tanzânia e ofereceu-me esta carteira, com este belíssimo tecido africano.
Enquanto estávamos a escolher os cursos a seguir, lembro-me de muita gente a criticar pela sua escolha. Parecia que alguém como ela teria que estudar medicina, não porque fosse o seu desejo, mas por causa das suas excelentes notas. Pois se já gostava dela, mais a admirei por não ter sucumbido a nenhuma pressão e por ter seguido o seu caminho.
Actualmente faz parte do projecto Zionzuri, na Tanzânia e ofereceu-me esta carteira, com este belíssimo tecido africano.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
genoveva*é tímida, e isto não quer dizer que seja desinteressante ou mais interessante por isso, quer apenas dizer que não tem uma facilidade natural de falar em público, especialmente quando o tema é ela própria. Aquilo que mais gosta é de fazer rir alguém, parece que o peito se enche de ar mágico, mas por vezes entusiasma-se tanto que começa a dizer demasiados disparates ou assim lhe parece, é demasiado auto-crítica.
A Genoveva vai estar na Feira de Artesanato em Lagos nos dias 8 e 9, eu ainda não lhe disse, porque tenho receio que ela se esconda, tem dificuldade em estar assim em exposição à frente de tanta gente. Espero que alguém goste dela tal como é e que se fartem de se fazer rir mutuamente.
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
noites frias*gosto muito de passear de noite, especialmente no inverno. A cidade está recolhida nos cobertores, as gaivotas estão silenciosas e vê-se um ou outro gato a subir um muro proibido. Andar aquece, o ar frio na cara sabe bem e é bom não ver nem ter que falar com ninguém, nem que seja por alguns minutos.
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
terça-feira, 27 de novembro de 2012
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
terça-feira, 20 de novembro de 2012
domingo, 18 de novembro de 2012
sábado, 17 de novembro de 2012
terça-feira, 13 de novembro de 2012
há uns dias cortei-me num dedo com um x-acto, não foi a primeira vez, mas foi até agora a mais grave. Desde então que tenho o dedo protegido com um penso vulgar, nada como as belas ligaduras que a minha avó me fazia, quando me magoava. Usava uns panos brancos em tiras, envolvia o dedo e no fim desenhava uma cara sorridente com uma caneta e atava uma linha colorida a fazer um laço. Claro que depois da primeira vez aconteceram alguns acidentes imaginários, com feridas imaginárias só para ter uma daquelas bonecas num dedo.
Não gosto de trabalhar com x-acto, talvez por já me ter magoado algumas vezes. Há uns anos, no que agora me parece outra vida, passei muito do meu tempo a construir maquetas, e de vez em quando lá tinha um acidente.
Nos últimos dias, cada vez que limpo a ferida, gosto de ver como a pele se vai regenerando, é um orgão fantástico. E penso que o que se está a passar na minha ferida é como nos desenhos animados Il était un fois la vie - Era uma vez a vida, em que os anticorpos estão a defender o organismo dos micróbios invasores, enquanto as células da epiderme se vão multiplicando, tudo ao som da música La vie, la vie, la vie...
Ao retornar ao mesmo trabalho e ao pegar outra vez no x-acto senti medo e tentei convencer-me a não ter, mas não estava a correr muito bem. No que pude socorri-me de uma das minhas tesouras. Mas estava a avançar muito devagar. Até que arranjei uma forma mais segura de trabalhar e agora está quase terminado.
O medo é mesmo um bicho difícil de combater, por vezes não podemos mesmo acreditar naquilo que pensamos se não é impossível avançar.À medida que a pele regenera, o medo acabará por se desvanecer, mas a aversão por x-actos mantem-se. (e tudo isto é verdade, mas também poderia ser uma metáfora)
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Moartea domnului Lazarescu* A morte do senhor Lazarescu.
A fost sau n-a fost? * 12.08 A Este de Bucareste
Num Outono chuvoso e de noites longas apetece, para além de um bom livro, bons filmes. Numa ida à biblioteca encontrei estes dois. São excelentes, o primeiro um drama tão bem feito e com tão bons actores que me esqueci que estava a ver um filme. O segundo uma comédia discreta e inteligente.
A fost sau n-a fost? * 12.08 A Este de Bucareste
Num Outono chuvoso e de noites longas apetece, para além de um bom livro, bons filmes. Numa ida à biblioteca encontrei estes dois. São excelentes, o primeiro um drama tão bem feito e com tão bons actores que me esqueci que estava a ver um filme. O segundo uma comédia discreta e inteligente.
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