sexta-feira, 31 de março de 2023

semana número 13*

Li: 
Na Praia de Chesil de Ian McEawn, este autor é sempre surpreendente. Um livro com tão poucas páginas e tão cheio.

Vi: 
Marrowbone - gostei muito. O filme estava classificado como de terror, mas classificaria como drama. Descobri há poucos anos que gosto de ver filmes de terror, desconfio que é por serem os que mais me desligam da realidade.

Parte do Campeonato do Mundo de Patinagem Artística. Acho tão emocionante ver este tipo de competições. Não sei nada sobre o desporto ou os atletas, só gosto de ver. Passo por uma série de emoções fortes ao longo das provas, é-me indiferente quem ganha medalhas, torço por todos. Adoro ver a felicidade deles quando as coisas correm bem, fico triste quando ficam tristes. Acho admirável o trabalho destas pessoas que é tão intenso e que têm que resumir em poucos minutos de prova. 

Uma notícia vinda dos Estados Unidos da América: um pai apresentou queixa, por na escola a professora ter mostrado uma imagem da estátua de David, de Miguel Ângelo, a directora da escola foi forçada a escolher entre demitir-se ou ser demitida. Escolheu demitir-se. Aparentemente o pai considerou esta obra de arte, uma coisa escandalosa e pornográfica, PORNOGRÁFICA!? E pior ainda outros terão concordado com ele, pois a professora perdeu o seu emprego por estar a fazer o seu trabalho que é, escândalo dos escândalos - ensinar. Em 2015 tive a oportunidade de visitar o V&A em Londres, onde está uma réplica de David que foi oferecida à rainha Victoria. A senhora ficou muito chocada e mandou que se fizesse uma folha de figueira para tapar o pénis. Isto aconteceu em meados do século XIX, e imagino que, na altura, já tenha sido considerado ridículo por muitas pessoas. Achei maravilhoso ver a púdica folha de figueira exposta junto da estátua despida.
Se este homem considera a fotografia de uma estátua que representa o corpo nu de uma figura bíblica  -  pornografia, temo pela saúde mental dos seus filhos. Suponho que como é proibido dar aulas de educação sexual, os manuais destes miúdos nem sequer terão imagens/esquemas dos aparelhos reprodutores. O mínimo das bases de biologia para perceber uma série de coisas importantes sobre a vida. Uma das minhas memórias mais felizes de sempre, foi estar a estudar com a minha sobrinha E. a reprodução e, para além de outras coisas, ver como o manual dela era muito, mas muito melhor do que aquele em que eu tinha aprendido a mesma coisa quase trinta anos antes. 

Ainda do mesmo país mais um tiroteio numa escola... Em 2022 foram baleadas 332 pessoas em escolas nos Estados Unidos. No mesmo ano foram compradas 16,5 milhões de armas pelos americanos. (números da organização The Trace). É um país muito, muito, muito estranho onde tiroteios em massa são normalizados porque é mais importante que cada pessoa seja livre de ter acesso a armas, mesmo que sejam do tipo usado em conflitos armados. Pergunto-me, anualmente, quantas crianças são mortas a tiro nos Estados Unidos e quantas num país em guerra?




Esta semana abri a caixa onde pacientemente me esperava, mais uma coisa por acabar. Para a semana falo mais sobre isto, irá demorar algum tempo a fazer. Mas posso dizer que um dos passos foi lavar o cabelo de uma Barbie com quantidades industriais de amaciador, resultou, já não parece um ninho de ratos.

sexta-feira, 24 de março de 2023

semana número 12*

Terminei de ler - Os meus Sentimentos, de Dulce Maria Cardoso, gostei muito mais deste do que do Retorno. Acho as suas personagens muito ricas e tal como no Retorno, cheias de preconceitos. Aqui temos uma mulher que revê partes da sua vida, e vamos percebendo como a falta de amor a moldou. 
Vivemos num mundo que finge ou não reconhece o quão preconceituoso é, e esta escritora não tem medo de mostrar pessoas que pensam e dizem coisas preconceituosas.

Há uns dias ouvi uma mulher orgulhosamente dizer que usava determinadas expressões, um silêncio (da minha parte posso dizer que não estava nada à espera que fosse aquilo que fosse dizer) e Dulce Maria Cardoso reagiu, não se calou como nós, disse "as palavras têm um peso que não se pode negar... o primeiro passo para deixar de haver racismo é reconhecermos que há racismo". Não a humilhou, o que disse foi o suficiente para que percebesse, para que recuasse.

Lamentavelmente sofro de uma coisa a que chamo cobardia social, mas que as pessoas mais amáveis chamarão introversão, timidez, fuga de confronto... que me impede de dizer muita coisa. Muitas vezes martirizo-me por isso, outras penso: "dar murros numa coluna de betão não a muda de sítio". Envergonho-me desta minha passividade. 
Isto fez-me lembrar de uma amiga minha, que já não via há muito tempo e que há uns meses tive o prazer de rever, fomos passear e lá pelo meio do passeio houve um incidente que envolveu cães e ela não teve qualquer problema em confrontar, em dizer que estava errado. Da outra parte não houve qualquer comentário, da minha parte admiração. Penso muitas vezes na cena do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, em que de uma sarjeta se vê um homem a servir de ponto, o jeito que dava, mas entre o meu cérebro e as minhas cordas vocais há uma parede.

No público esta semana vinha um artigo sobre o facto de se estarem a "esconder" livros de Enid Blyton, por conterem linguagem racista e preconceituosa. Já há uns anos que novas edições dos seus livros foram alteradas pelo mesmo motivo. Na semana anterior mais ou menos a mesma coisa sobre os livros 007 James Bond. Este branqueamento da literatura serve para quê e a quem? Não seria mais produtivo que as obras que contêm este tipo de linguagem imprópria, sejam livros, sejam filmes, ou outras, continuem a existir tal como foram feitas? Quem lê e vê não terá sentido crítico? Quem vê um filme, dos anos 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 onde um homem agarra uma mulher à força para a beijar e que ela luta durante um segundo, mas depois gosta, acha que é assim que um homem deve ser ou é assim que as mulheres gostam de ser tratadas? Quem vê Gone With the Wind, achará que ser escravo até era porreiro, pela forma como são retratados no filme? Ou que a causa do sul era honrosa?

Vi All In The Family (Uma família às Direitas) quando era miúda, isso não me fez pensar como Archie Bunker pensa ou usar o mesmo tipo de linguagem, pelo contrário, ver aquela personagem tão preconceituosa, acho que me ajudou a perceber melhor diferentes tipos de preconceito. Nós não nos ríamos com ele, mas dos absurdos que dizia e do desespero a que conduzia a filha e o genro. 

Terminei de ler Portugal e a Guerra - História das intervenções militares portuguesa nos grandes conflitos mundiais séculos XIX e XX, coordenado por Nuno Severiano Teixeira. É um conjunto de palestras de diferentes autores em que se fala desde as Invasões Francesas até à Guerra na Bósnia. Acho que vale a pena ler este tipo de coisa, para perceber melhor o que se passou e passa. 

Vi:
Homem Aranha Longe de Casa - gosto do Homem Aranha e do seu humor totó.

The Good Liar ( A Mentira Perfeita) - gostei, percebi o que estava a acontecer, mas felizmente as razões não foram as que esperava, o que tornou tudo mais interessante. Helen Mirren e Ian McKellen são excelentes. 

He's Just Not That Into You (Ele Não Está Assim Tão Interessado) - é uma tentativa de redenção dos filmes do género, mas aborrece-me a generalização dos géneros. Como se as pessoas pensassem e agissem de determinada forma só por causa do seu género. Aquilo que se pensa e aquilo que se faz está muito mais relacionado com o nosso tipo de personalidade. Um homem e uma mulher extrovertidos não serão muito mais semelhantes, do que um homem tímido e um extrovertido? Nos relacionamentos uma mulher tímida e um homem tímido não terão o mesmo tipo de dificuldades? E aquela personagem que precisa que um tipo lhe explique quando os homens estão ou não interessados, e que depois ela tem que lhe explicar que ele está interessado nela, porque ele não percebe. Neste tipo de filmes as mulheres estão sempre desesperadas por casar, porquê? Penso nas minhas amigas e nas mulheres que conheço e só me lembro de uma que posso comparar com essas personagens. Mas cá está um filme cheio de preconceitos, mas que pode servir para pensar, nunca me passaria pela cabeça tentar proibir as minhas sobrinhas de o ver, este e todos o deste género, pelo contrário adoraria ver com elas e saber o que pensam.

Finalmente remendei, substituí todos os tecidos que se estragaram na minha manta de retalhos. Eram tecidos que não foram feitos para este tipo de coisa. Após duas lavagens desfizeram-se. Agora estou a pensar que será melhor fazer mais qualquer coisa para a reforçar, mas ainda não decidi como vou fazer, se à máquina se à mão, se em linhas, se em quadrados, se livre, ou se apenas uns pontos em cada canto dos quadrados (estou mais inclinada para esta última hipótese).




sexta-feira, 17 de março de 2023

semana número 11*

Remendei uma manta que caiu nas garras da felina que gosta de renovar as coisas por aqui. Daria uma  boa decoradora, talvez influenciada pelos muitos vídeos que vejo sobre decoração. O estilo dela é... bem... como definir? É influenciado pelo punk britânico, não é portanto um estilo para todos.

As bibliotecas são lugares muito especiais, ali estão à nossa disposição estantes cheias de horas bem passadas. No sábado estive quase para não ir à biblioteca, mas ainda bem que fui, é muito interessante ouvir as opiniões das outras pessoas, muitas vezes incrivelmente opostas ao que pensamos. 

Vi o documentário Meanwhile On Earth, gostei muito. Os bastidores muito higiénicos da indústria mortuária sueca. É um filme composto de quadros, ora estamos numa capela, onde se dispõem arranjos de flores em torno de um caixão, ora junto dos condutores do carro fúnebre, logo depois nos fornos crematórios ou numa casa mortuária onde se arrumam corpos embrulhados em lençóis brancos, até a fase do maquilhador. As cenas mais tristes são as que decorrem num lar, durante um jogo de bingo. A nossa morte está mesmo muito longe de ser a coisa mais deprimente que se vive.

Vi Loving Adults, poderia chamar-se Um Aviso Paterno, neste filme vê-se o extremo da violência que pode ser um divórcio. Não é muito surpreendente, mas tinha a ambição de o ser.

Vivo num mundo pequeno e fechado, uma escolha conduzida por não sei bem o quê, no entanto tenho uma pequena ponte com o mundo lá fora, chama-se Instagram e esta semana graças a esta ponte recebi duas novidades muito felizes. A primeira que a saúde de uma pequenita melhorou muito e a outra de pessoas talentosas que viveram algo com o qual se calhar nunca tinham sonhado. Apesar de serem notícias muito diferentes, fiquei tão feliz que não consegui dormir muito bem durante umas noites. Nunca me tinha acontecido ter insónias alegres. Não sei se há alguma coisa mais feliz do que ver a felicidade de pessoas de quem gostamos.

Enquanto terminei os sacos vi/ouvi Blown Away,  concurso onde se fazem peças de vidro, adorei ver o que conseguem fazer, mas não tenho muita paciência para a conversa, acho muito mais interessante ver o que vão fazendo.

Com os restos da costura, enchi uma pequena almofada de alfinetes.





sexta-feira, 10 de março de 2023

semana número 10*

Esqueci-me de dizer na semana passada que vi o documentário Becoming, simpatizo com Michelle Obama, acho-a inteligente e forte. Gostei que na divulgação do livro tenha feito aqueles encontros com grupos pequenos. Incomoda-me o endeusamento, percebo a admiração e que a vejam como um grande exemplo, talvez seja uma questão cultural, há um culto da celebridade muito estranho nos Estados Unidos.
Não é possível que as pessoas que se tornam famosas a este nível, não comecem a sofrer de algum tipo de problema de saúde mental. Mesmo a mais equilibrada das pessoas deve ficar um bocado avariada. Comovi-me quando, quase no fim, uma senhora lhe disse que nunca pensou viver num tempo em que teria um presidente e uma primeira dama como eles.

No fim-de-semana vi:

The road, tinha lido o livro há uns anos e finalmente consegui ver o filme, é tão angustiante como o livro, achei as interpretações extraordinárias. Tal como nos filmes A Silente Place, a mesma ideia de que para sobreviver não é necessário deixar de se ser humano. Nestes universos apocalípticos o que é sempre mais aterrorizador, não é a fome, ou os monstros, mas um possível encontro com outras pessoas.

The Hunt, de Graig Zobel, (aconselho o homónimo de Vinterberg que é excelente), nesta caçada estava à espera de um thriller saiu-me uma comédia, a mais violenta que já vi. É como os comentários na internet, o que faz sentido, porque é por aí que  a coisa começa. A interpretação de Betty Gilpin, fez-me lembrar Jodie Comer em Killing Eve, mas não tão boa. Foi surpreendente, gosto quando não sei o que vai acontecer.

Durante a semana: 

Terminei de ver/ouvir a segunda temporada de The Next in Fashion, enquanto costurava, acho sempre fantástico o que conseguem fazer em tão poucas horas, fiquei contente com os finalistas, eram aqueles por quem estava a torcer. Fico sempre com pena por não darem prémios a todos. Devem receber uma espécie de ordenado por participarem no programa, mas mesmo assim acho que, pelo menos os finalistas, deveriam receber mais qualquer coisa.

Vi Selective Outrage de Chris Rock, é forte, nalgumas transições achei-o nervoso e inseguro, aquilo parece-me difícil de fazer como um raio. No fim achei que não estava satisfeito, que a coisa não lhe correu como queria. O que mais me fez rir foi quando o alvo foi o absurdo, o ridículo, tal como na sua série Everybody Hates Chris (que há uns anos era o momento zen da minha mana e o meu, aliás durante uns anos na RTP2 passaram muitas séries cómicas a uma hora que ambas conseguíamos parar para ver). Rock parece um pastor fervoroso, usando técnicas semelhantes, como a repetição e o andar de um lado para o outro, os gestos e entoações exagerados, mas as aleluias e os améns são substituídos por obscenidades. Não gosto muito do estilo dele, mas algumas piadas são excelentes. Esperava algo mais elegante em relação ao tema Smith. Não querendo estragar nenhuma piada, gostei muito quando disse que vivemos num mundo onde as emergências dos hospitais estão cheias de pessoas com cortes de papel.
Dos comediantes que tenho visto neste registo, os meus preferidos são Dave Chappelle e Ricky Gervais. Chappelle ao contrário de Rock está em palco muito sossegado, fala como se estivesse a reflectir sobre as coisas. É um comediante que espicaça o nosso cérebro, é excelente. Gervais parece um miúdo malandreco a divertir-se, agora vou dizer isto hihihi e a gente ri-se com ele.

Li Assim Como Tu de Raquel Salgueiro e Jorge Margarido e Avô Minguante de Daniela Leitão e Catarina Silva. Na minha opinião, os livros vencedores do concurso de Literatura Infantil do Pingo Doce têm melhorado consideravelmente, e gosto mais deste formato dos últimos anos. 

Estou a fazer catorze sacos de pano cru simples, tinha cortado o tecido, para os fazer para uma exposição individual, há uns anos, mas não consegui na altura. Enfim, faço agora, já não com a ideia inicial, mas ficam prontos para uma próxima.




sexta-feira, 3 de março de 2023

semana número 9*

No sábado de manhã estive na antiga casa Fogaça, isto acontece-me muitas vezes, aquele lugar foi tão importante para mim e agora é só um lugar, parece uma história que me contaram e não algo que vivi. A palavra saudade parece que não se aplica a objectos, lugares, acontecimentos, sinto saudade de pessoas e de animais, mas de resto é estranho como não mantenho qualquer ligação, parece que vai tudo para um ficheiro que nunca mais é aberto. Foi como estar a visitar um cenário vagamente familiar. E ali num canto esquecido estava a apodrecer uma coisa, que quando disse o que era, resultou num Ah era? Em breve será mais um nada. 

Tenho reparado que nas últimas semanas tenho passado os fins-de-semana, como se fossem dias de descanso, não foi propositado, aconteceu, talvez o corpo tenha decidido por mim. A minha vida é tão estranha, que até a mim causa estranheza.

Há músicas que ficam dentro da cabeça, outras no ouvido, as que fazem mexer o corpo e há aquelas que entram na pele, Salt and the Sea, dos Lumineers faz tudo isso e ainda me faz pensar que talvez a humanidade não seja assim uma coisa tão má, já que foram pessoas que criaram esta beleza.

Vi A Quiet Place Part II, gostei, é angustiante e bem feito.

Habemus saco, aliás sacos... terminei o saco, achei-o demasiado coiso (palavra que se usa quando não se sabe o que dizer) para o dia-a-dia, fiz outro, mais adequado para ir à padaria ou ao supermercado. Quando terminei este menos coiso, achei-o demasiado bla (palavra sem tradução do meu cérebro para a realidade).
Para o exterior do demasiado coiso usei restos de tecido, para o forro parte de um cortinado que a menina de garras afiadas remodelou. Para o bla usei pano cru e um antigo cinto que tinha guardado para uma necessidade deste tipo.
Agora com um demasiado coiso e um bla, parece que me faz falta um caracóis dourados.
Esta insatisfação, fez-me pensar em vestidos, adoro vestidos, há vestidos tão bonitos, quantos vestidos tenho? Um de inverno, outro assim mais para o outono e outro de verão. Nunca os uso. Adoro vestidos e vestir vestidos, e nunca uso vestidos. Porquê? Também gosto de saias, quantas tenho? Nenhuma. Tenho dois pares de calças que parecem saias, conta? Que esquisitice é esta?