terça-feira, 8 de janeiro de 2013

"ler pode tornar o homem perigosamente humano" 

Guiomar de Grammon

Os meus irmãos e eu adoramos ler, mas nunca fomos incentivados a ler uma página, os livros eram uma raridade em casa. Para tentar perceber o porquê da minha paixão pela leitura e pelo objecto livro estive a fazer  uma viagem pelas minhas memórias.
O meu primeiro contacto com a leitura foi mau, a minha mãe foi chamada à escola para conversar com a professora: " Estou muito preocupada com a Ana, é a única que não lê, já estão todos mais avançados do que ela." A minha mãe diz com muito orgulho que foi ela quem me ensinou a ler e que aprendi numa semana (não tenho provas, mas acho que o que eu tinha era vergonha de ler alto).
Nas minhas primeiras visitas à velhinha Caloust Gulbenkian, que havia no centro da cidade, fui acompanhada pela minha irmã. A minha timidez absurda impedia-me de ir à biblioteca sozinha, na realidade impedia-me de fazer uma série de coisas simples, como pedir um livro específico ao qual não conseguia chegar. Mas a saída da minha irmã de casa, para estudar, e a possibilidade de vir a receber um postal da biblioteca devido a atraso de entrega dos livros, lá me empurraram e comecei a ir sozinha. Portanto aos 12 anos a paixão pela leitura já era muito forte, pelo menos maior do que o terror que sentia por ter que falar com a funcionária da biblioteca. Quando digo terror não estou a exagerar, as minhas mãos tremiam, o coração batia loucamente, sentia uma espécie de náusea durante todo o caminho, ao longo do qual ia treinando mentalmente o que tinha que dizer... para no fim gaguejar baixinho boa tarde e obrigada. Não consigo perceber este medo.
Talvez o maior incentivo para ler tenha vindo das minhas grandes amigas de infância, todas elas grandes leitoras. Talvez nos tenhamos influenciado umas às outras. Lembro-me da rapidez com que elas devoravam os livros, nunca lhes consegui acompanhar o ritmo, ainda hoje me considero uma leitora lenta, o prazer em ler, esse, tem vindo sempre a aumentar.