sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

semana número 4*

Sábado: estive a organizar papeladas e contabilidade... 

Domingo: vi 7 Donne e un mistero e terminei de ler A Conversa de Bolzano, de Sándor Márai. Tenho pena que o filme tenha sido fraco, tinha os ingredientes certos para ser giro. Também esperava que o livro fosse melhor, pois tinha gostado muito de As velas não ardem até ao fim. A conversa, ou as conversas, são longos monólogos sobre uma coisa que dizem ser o amor, mas que penso estar muito longe de ser amor. No entanto acredito que tanto o filme como o livro dariam boas peças de teatro.

Segunda-feira: comecei a ler Charles Dickens, de Jane Smiley. Experimentei umas coisas com o tecido que estou a fazer e não gostei.

Terça-feira: Continuei a ler. Desfiz o que tinha feito com o tecido, experimentei outras coisas e não gostei.

Quarta-feira: Terminei de ler o livro, gostei muito. Uma biografia sumária que explora a obra de Dickens e a relaciona com acontecimentos da sua vida, no momento em que estava a trabalhar em determinados manuscritos e na altura da sua publicação. Muito interessante, não há qualquer tentativa de mascarar os seus defeitos com a irritante frase era um homem do seu tempo. Nem os seus defeitos diminuem a sua admirável capacidade de trabalho quase sobre-humana. 
Desfiz o que tinha tentado com o tecido...

Quinta-feira: Nova abordagem com o tecido, mais de acordo com a ideia inicial, espero que resulte. Compliquei o que era simples.

Sexta-feira: Ainda não terminei o tecido, mas está quase.



sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

semana número 3*

Por vezes dá-se voltas na vida para a mudar, para a melhorar, e investe-se - trabalho, tempo e dinheiro, mas por muito que se lance dados não se chega à parte do vici. Tentar é um verbo que agora me faz revoltar o estômago, o optimismo de "vou tentar", transforma-se na pouco animadora "ao menos tentei". Talvez seja tempo de me desiludir de vez e perceber que isto é bastante mais do que suficiente, a parte triste é que já tinha percebido isso e estava contente, mas a ambição parva de liberdade voltou a espicaçar-me. Será que nunca se atinge um contentamento pleno? Será que faz parte da condição humana cantar Estou Além em círculos. Em vez de Vou continuar a procurar a minha forma o meu lugar vou começar a cantar estou tão bem sossegada aqui, este é o meu lugar, a métrica foi-se e a música fica estragada, a filosofia fica mais pobre, mas pode ser que a repetição me traga algum sossego.

Estou a transformar restos num tecido para, finalmente, fazer um saco para mim, o meu está quase em farrapos e até eu consigo perceber que chegou a hora de ter um novo. 

O atelier ao longo desta semana... fazem-me rir os meus ciclos: a limpeza e arrumação que logo se transforma em caos.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

semana número 2*





O fim-de-semana começou com céus dramáticos. Gosto muito de acordar cedo e gosto muito de chuva, talvez isso fosse diferente se vivesse onde os invernos são frios e menos secos. Independentemente dos comportamentos atmosféricos adoro a música I can't stand the rain de Ann Peebles.

Li Mendigos e Altivos (Mendiants et orgueilleux) de Albert Cossery e não me lembro de nenhum livro que me fizesse ter tantas questões, quero saber porque razão as personagens são tão superficiais e semelhantes entre si, há pouco que as distinga, porque são tão incoerentes, tão desumanas em que o seu estilo de vida parece, em simultâneo, ser glorificado e desprezado pelo autor. Gostava de saber se tudo isto foi intencional. Todas as personagens femininas são nacos de carne. (Se ainda não é óbvio não gostei do livro). Acredito que se as personagens tivessem alguma coisa... não sei o quê, talvez se se parecessem mais com pessoas, talvez aí tivesse gostado.
Há no livro uma informação sobre Cossery onde se lê: o autor adepto da indolência e profeta do prazer e da preguiça, sempre fez questão de não ultrapassar as suas médias: uma linha por semana, um livro de oito em oito anos. 
Mas as contas não batem certo, só se uma linha fosse um parágrafo e mesmo assim... 

Gosto muito de personagens bem construídas e de diálogos, Eça de Queirós e Jane Austen habituaram-me mal, génios a escrever ambos. Em Mendigos e Altivos também os diálogos são... esquisitos, o que faz sentido, personagens deficientes em humanidade dificilmente falariam como pessoas.
Esta semana vi Together Together, um filme que me fez concluir que gosto de filmes com poucas personagens, sendo que entre os meus preferidos estão: Locke, onde Tom Hardy faz uma interpretação brilhante e Blue Jay. Em todos estes filmes os diálogos são excelentes. Together Together agradou-me por não cair na mesmice de sempre e falar de outros tipos de amor. Duas pessoas tristes a fazer o que podem por viver melhor e por serem mais elas próprias e não o que os outros esperam deles.

Esta foi uma semana muito boa, quando faço alguma coisa com madeira fico sempre bem disposta, recuperei uma cadeira, que tinha o assento partido, substituí uma trave num banco e construí uma espécie de bengaleiro. 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

semana número 1*

A arte de ser desonesto

Há dias revi o filme Ocean's 8, as primeiras cenas fazem-me sempre sorrir. Como é fácil ser-se enganado. Entre viver na constante desconfiança e confiar que a maioria das pessoas é honesta, prefiro a segunda hipótese. O mundo seria bem pior se assim não fosse. Felizmente funcionamos de forma menos dual que uma chave dicotómica e por isso conseguimos viver confiando e ir desconfiando aqui e ali. 
É o típico feell good movie, traduzindo: leve, com alguma graça, sem profundidade nenhuma e entretem o suficiente para nos despreocuparmos da vida um bocadinho. Gosto especialmente da personagem interpretada por Rhianna, uma mistura de pessoa cool com uma arrogânciazinha q.b., que usa o seu génio em prol do bem-estar, o seu. Claro que isto em personagens fictícias é engraçado, se conhecesse alguém assim, não estaria entre as 100 primeiras escolhas para bff, como dizem os adolescentes. Diz, na minha opinião, duas, das três melhores frases do filme: "You poor thing" quando um tipo da segurança do museu abre uma notificação enviada por ela, e quando a personagem interpretada por Mindy Kaling está a ter um fanico pela Taylor Swift "You are so White!". A outra frase é interpretada por Sandra Bullock: "Well, I have 45 bucks Tina, can go anywhere I want".

Há um artista, um grande artista na verdade, que é genial, desonesto, arrogante, engraçado e não é uma criação, existe. Chama-se Wolfgang Beltracchi e é um excelente falsificador, não só porque falsificou (vou usar esta forma verbal, porque depois de cumprir pena de prisão prometeu não voltar a fazê-lo) de forma brilhante o trabalho de vários artistas famosos, como o fez de forma muito inteligente. Criou obras "novas" de autores conhecidos, nos seus diversos estilos. Obras que especialistas reconheciam como sendo originais e que estavam "perdidas". Aproveitava-se da ganância ignorante dos especialistas /leiloeiros, e lucrava com o dinheiro dos compradores multi-milionários que depois exibiam em suas casas os seus belos quadros. Há uns anos numa entrevista quando lhe perguntaram se se arrependia do que tinha feito, pensou um pouco e respondeu: "Sim, arrependo-me de ter usado aquele branco". Uma referência à tinta que o levou a ser descoberto. Wolfgang tinha o cuidado de fazer as suas próprias tintas com técnicas usadas na altura que supostamente os quadros teriam sido pintados, excepto uma vez, em que usou tinta branca moderna.

No seu livro STEAL LIKE AN ARTIST, Austin Kleon começa por dizer que a todos os artistas é feita a questão: Onde vais buscar as tuas ideias?, e que o artista honesto responde - Roubo-as!
Em primeiro lugar adoraria que me fizessem essa pergunta, acho mais interessante e mais fácil de responder do que: quanto tempo demoraste a fazer?
Tive um professor que nos dizia "os pintores pintam o que viram noutros quadros e não o que vêem". O que o meu professor e Austin Kleon dizem é verdade, mas não é toda. Aquilo que se faz, desde o tempo das pinturas e gravuras rupestres é alguém tem uma ideia e desenha, e entre os que observam esse desenho, há os que falam sobre o desenho - uns dizendo "sim senhor está jeitoso", os que franzindo o nariz, cospem um "modernices maiparvas", outros ainda que acham que foi um ser superior que os iluminou, não faltando o clássico: "isso até eu fazia".  E há os que fazem realmente repetindo / imitando, sem qualquer problema de consciência e batendo no peito que é uma ideia sua e original. Mas a maioria, lá está, mais honesta, rouba / usa o que gosta, um traço, uma aplicação de cor, uma técnica, um tema e vai desenvolvendo e melhorando o seu trabalho num estilo próprio.

O que me faz lembrar Stromae que compõe temas distintos com ritmos e tons conhecidos, influências óbvias de diferentes culturas desde Cabo-Verde à Bulgária, uma misturada de estilos que funciona porque ele os trabalhou até funcionarem. O trabalho que é desenvolvido num desenho/ escultura/ pintura/ música, etc é uma sopa de pedra, a diferença entre o artista e o frade que vai pedindo os ingredientes é que o primeiro não tem a intenção de enganar ninguém. Os mais diversos tipos de arte são o mais puro escapismo, para quem a faz e para quem a usufrui.

Alors on sort pour oublier tous les probèmes
Alors on danse

domingo, 1 de janeiro de 2023

partilhar*

1. fazer partilha ou a divisão em partes de = compartilhar, compartir, distribuir, dividir, repartir

2. ter ou experimentar os mesmos sentimentos, ideias ou pontos de vista = participar

3. ter as mesmas características que outro

4. narrar a alguém um sentimento ou uma experiência = contar, revelar

5. (informática) tornar acessível ou visível a outros utilizadores de uma rede ou através de uma aplicação = compartilhar

Vou dividir o ano nas suas semanas, vou participar e depois narrar e aqui compartilhar. Vou usar este espaço como um semanário público, um relato de experiências: trabalho, pessoas, passeios, exposições, livros, música, cinema, fotografia... Todas as sextas-feiras uma nova partilha.