sexta-feira, 24 de março de 2023

semana número 12*

Terminei de ler - Os meus Sentimentos, de Dulce Maria Cardoso, gostei muito mais deste do que do Retorno. Acho as suas personagens muito ricas e tal como no Retorno, cheias de preconceitos. Aqui temos uma mulher que revê partes da sua vida, e vamos percebendo como a falta de amor a moldou. 
Vivemos num mundo que finge ou não reconhece o quão preconceituoso é, e esta escritora não tem medo de mostrar pessoas que pensam e dizem coisas preconceituosas.

Há uns dias ouvi uma mulher orgulhosamente dizer que usava determinadas expressões, um silêncio (da minha parte posso dizer que não estava nada à espera que fosse aquilo que fosse dizer) e Dulce Maria Cardoso reagiu, não se calou como nós, disse "as palavras têm um peso que não se pode negar... o primeiro passo para deixar de haver racismo é reconhecermos que há racismo". Não a humilhou, o que disse foi o suficiente para que percebesse, para que recuasse.

Lamentavelmente sofro de uma coisa a que chamo cobardia social, mas que as pessoas mais amáveis chamarão introversão, timidez, fuga de confronto... que me impede de dizer muita coisa. Muitas vezes martirizo-me por isso, outras penso: "dar murros numa coluna de betão não a muda de sítio". Envergonho-me desta minha passividade. 
Isto fez-me lembrar de uma amiga minha, que já não via há muito tempo e que há uns meses tive o prazer de rever, fomos passear e lá pelo meio do passeio houve um incidente que envolveu cães e ela não teve qualquer problema em confrontar, em dizer que estava errado. Da outra parte não houve qualquer comentário, da minha parte admiração. Penso muitas vezes na cena do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, em que de uma sarjeta se vê um homem a servir de ponto, o jeito que dava, mas entre o meu cérebro e as minhas cordas vocais há uma parede.

No público esta semana vinha um artigo sobre o facto de se estarem a "esconder" livros de Enid Blyton, por conterem linguagem racista e preconceituosa. Já há uns anos que novas edições dos seus livros foram alteradas pelo mesmo motivo. Na semana anterior mais ou menos a mesma coisa sobre os livros 007 James Bond. Este branqueamento da literatura serve para quê e a quem? Não seria mais produtivo que as obras que contêm este tipo de linguagem imprópria, sejam livros, sejam filmes, ou outras, continuem a existir tal como foram feitas? Quem lê e vê não terá sentido crítico? Quem vê um filme, dos anos 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 onde um homem agarra uma mulher à força para a beijar e que ela luta durante um segundo, mas depois gosta, acha que é assim que um homem deve ser ou é assim que as mulheres gostam de ser tratadas? Quem vê Gone With the Wind, achará que ser escravo até era porreiro, pela forma como são retratados no filme? Ou que a causa do sul era honrosa?

Vi All In The Family (Uma família às Direitas) quando era miúda, isso não me fez pensar como Archie Bunker pensa ou usar o mesmo tipo de linguagem, pelo contrário, ver aquela personagem tão preconceituosa, acho que me ajudou a perceber melhor diferentes tipos de preconceito. Nós não nos ríamos com ele, mas dos absurdos que dizia e do desespero a que conduzia a filha e o genro. 

Terminei de ler Portugal e a Guerra - História das intervenções militares portuguesa nos grandes conflitos mundiais séculos XIX e XX, coordenado por Nuno Severiano Teixeira. É um conjunto de palestras de diferentes autores em que se fala desde as Invasões Francesas até à Guerra na Bósnia. Acho que vale a pena ler este tipo de coisa, para perceber melhor o que se passou e passa. 

Vi:
Homem Aranha Longe de Casa - gosto do Homem Aranha e do seu humor totó.

The Good Liar ( A Mentira Perfeita) - gostei, percebi o que estava a acontecer, mas felizmente as razões não foram as que esperava, o que tornou tudo mais interessante. Helen Mirren e Ian McKellen são excelentes. 

He's Just Not That Into You (Ele Não Está Assim Tão Interessado) - é uma tentativa de redenção dos filmes do género, mas aborrece-me a generalização dos géneros. Como se as pessoas pensassem e agissem de determinada forma só por causa do seu género. Aquilo que se pensa e aquilo que se faz está muito mais relacionado com o nosso tipo de personalidade. Um homem e uma mulher extrovertidos não serão muito mais semelhantes, do que um homem tímido e um extrovertido? Nos relacionamentos uma mulher tímida e um homem tímido não terão o mesmo tipo de dificuldades? E aquela personagem que precisa que um tipo lhe explique quando os homens estão ou não interessados, e que depois ela tem que lhe explicar que ele está interessado nela, porque ele não percebe. Neste tipo de filmes as mulheres estão sempre desesperadas por casar, porquê? Penso nas minhas amigas e nas mulheres que conheço e só me lembro de uma que posso comparar com essas personagens. Mas cá está um filme cheio de preconceitos, mas que pode servir para pensar, nunca me passaria pela cabeça tentar proibir as minhas sobrinhas de o ver, este e todos o deste género, pelo contrário adoraria ver com elas e saber o que pensam.

Finalmente remendei, substituí todos os tecidos que se estragaram na minha manta de retalhos. Eram tecidos que não foram feitos para este tipo de coisa. Após duas lavagens desfizeram-se. Agora estou a pensar que será melhor fazer mais qualquer coisa para a reforçar, mas ainda não decidi como vou fazer, se à máquina se à mão, se em linhas, se em quadrados, se livre, ou se apenas uns pontos em cada canto dos quadrados (estou mais inclinada para esta última hipótese).